quinta-feira, dezembro 27, 2007

Não será necessário expandir o metro para além das linha

Jornal de Notícias


Hugo Silva

Paulo Pinho coordenou o estudo da Faculdade de Engenharia do Porto para a expansão da rede do metro. O professor catedrático admite que a linha circular central proposta será a que maior impacto terá na rede e sublinha que nos pressupostos do estudo também esteve presente a preocupação de reforçar a coesão territorial. Até porque, alerta, as assimetrias no Porto são hoje um problema sério.


Consciente da polémica inerente à sugestão de colocar o metro na ponte da Arrábida, sobre o Douro, Paulo Pinho, professor catedrático da Faculdade de Engenharia do Porto, esclarece que tal projecto só é possível quando estiver pronta a CREP (Circular Regional Externa do Porto) e se houver portagens para afastar o tráfego de atravessamento da actual VCI.



JN|O estudo para a expansão do metro não será demasiado "portocêntrico"?



Paulo Pinho|Tenho consciência de que algumas pessoas vão achar isso, mas é preciso perceber que tipo de área metropolitana temos. Todo o núcleo central está em perda. Sabendo nós que a capacidade de expansão para o exterior está limitada, temos um núcleo central que precisa de ser requalificado. Acontece que este núcleo central é no Porto. Não há nenhuma preocupação em favorecer este ou aquele concelho. Temos uma zona em perda e a vitalidade da área metropolitana depende da força do núcleo central.



Um dos municípios que mais cresceu demograficamente, a Maia, não é contemplado na expansão prevista...

A Maia está servida de metro. Por outro lado, uma das propostas que fazemos, ligando S. Mamede ao núcleo da Asprela e ao Hospital de S. João, vai servir bem a Maia, porque permite rebater e evitar o congestionamento da linha central da rede actual. Fizemos vários estudos, com várias alternativas e, neste momento, a evidência que temos é de que, relativamente a outras soluções que estão na mesa, essa não nos parece ter a mesma importância.



Tecnicamente, qual lhe parece ser a linha prioritária?

Tenho a convicção de que uma das linhas que terá um efeito maior e mais espectacular será a linha circular central. Está concebida para permitir um aumento substancial da flexibilidade no funcionamento de toda a rede e para servir um conjunto de pontos no núcleo central da área metropolitana que têm possibilidades de gerar um volume muito significativo de deslocações. Mas todas as propostas foram concebidas e avaliadas com base nos mesmos critérios onde estavam as pessoas, os empregos, os serviços e o comércio, percebendo que esses são os grandes geradores de deslocações. O metro é um sistema de transportes.



Ou seja, não deverá promover-se, através do metro, a urbanização de novas zonas.

Isso está completamente fora daquilo que é a nossa realidade. O nosso problema actual é saber como vamos encontrar pessoas para povoar as casas que temos. Um outro problema, que tem vindo a agravar-se e tem de ser encarado com seriedade, é a divisão muito significativa da cidade, quase que em duas cidades a ocidental e a oriental. Esta crescente discrepância entre uma zona com mais recursos, com população mais educada, e uma outra zona, em que se vão concentrando problemas económicos e sociais, começa a vir à tona, com problemas de segurança pública e de violência. Um dos aspectos que presidiu à concepção desta rede foi exactamente dar coesão territorial a esse espaço, que é uma condição indispensável para a coesão social.



Se todas as linhas previstas forem feitas ainda há espaço para o metro se expandir?

Com a área metropolitana que agora temos, tenho a sensação que, de facto, não. Não estou a ver necessidade de expandir mais do que este conjunto de propostas que fazemos agora. Pensando a uma escala de cinco/dez anos, esta é a proposta que maximiza a implantação do metro.



Quer explicar melhor a proposta de pôr o metro a circular na ponte da Arrábida?

É uma hipótese que tem de ser vista com cuidado e ponderação. Temos um sistema de circulação em que todo o tráfego de atravessamento, pesado e ligeiro, passa nas cidades do Porto e de Gaia, através da VCI. Uma vez concluída a CREP, e apenas nessa circunstância, temos todas as condições para libertar a VCI desse tráfego. Nessas circunstâncias, e apenas nessas circunstâncias, entendemos que a actual ponte da Arrábida pode ser uma solução. Uma solução que contribua, inclusivamente, para se avançar, depois, com a qualificação de toda a VCI, que poderia tornar-se numa via muito mais urbana. Esta opção só é possível e desejável se e quando a CREP estiver concluída e se houver uma política de portagens que desincentive a entrada no núcleo central da área metropolitana e que mantenha o tráfego pesado fora.



Defende então, portagens à entrada da cidade?

O que defendo é que a política de portagens dê uma indicação clara por onde deve passar o tráfego pesado e ligeiro de atravessamento. Isso deve ser feito no sentido de penalizar a sua entrada no núcleo central da área metropolitana e despenalizar quando circula por fora.

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