quarta-feira, março 22, 2006

Simular para prevenir

Póvoa Semanário

Pedro Ferreira e Silva

Um simulacro de acidente na ponte sobre o rio Ave foi a forma encontrada pela Metro da Porto para testar a capacidade de resposta das forças de segurança e emergência, na semana anterior à abertura da linha da Póvoa

A empresa Metro do Porto decidiu aproveitar os últimos dias antes da abertura oficial da Linha Vermelha que liga a Póvoa de Varzim ao estádio do Dragão para fazer um simulacro de acidente em Vila do Conde. O cenário escolhido foi o do descarrilamento de uma composição com duas carruagens, mesmo em cima da ponte sobre o rio Ave, entre as estações de Santa Clara e Azurara.

Tudo aconteceu por volta das 10h20 da manhã e o primeiro a chegar ao local foi o Gestor Local de Emergência, sete minutos depois. Este operativo da Metro do Porto fez a primeira análise da situação. Às 10h30, a GNR chega ao local e estabelece um perímetro de segurança. Os Bombeiros Voluntários de Vila do Conde fazem o primeiro reconhecimento da zona de impacto às 10h45 e a equipa de Desencarceramento da corporação entra em acção um minuto depois. Os elementos do INEM – Instituto Nacional de Emergência Médica – começam a intervir às 10h51 minutos e a primeira ambulância atinge o local do acidente seis minutos depois, precisamente quando a equipa de Resgate e Salvamento em Grande Ângulo da corporação vila-condense faz a sua primeira busca nas imediações.

Às 11h10 chega a embarcação de resgate dos Bombeiros da Póvoa de Varzim, com mergulhadores, para pesquisar no rio Ave e junto à margem. Este é o filme da primeira hora de operações no local, que continuou com o transporte, prestação de cuidados médicos e encaminhamento de todas as vítimas e finalizou com a colocação do veículo acidentado nos carris, bem perto das 12h50. Para tal foi necessária a utilização de uma viatura de carrilamento especializada.

Foram dez, as vítimas resultantes do acidente de entre os 20 passageiros que estavam na corporação que se deslocava na direcção do Estádio do Dragão. Dois feridos, foram considerados pelos médicos do INEM, muito graves, três graves foram considerados graves e cinco ligeiros. A estes ainda é necessário acrescentar um muito grave, electrocutado, que resultou de uma situação de contacto com tensão quando estava a cortar a corrente na sub-estação 7 situada na zona da Varziela, outra situação prevista no simulacro. As duas vítimas muito graves foram transportadas para os hospitais de S. João e Santo António, no Porto, as três em estado grave para o hospital Pedro Hispano, em Matosinhos e para o S. João e os ligeiros dividiram-se entre o Santo António e o centro hospitalar Póvoa de Varzim/ Vila do Conde. O acidentado da sub-estação, dado que se tratava de um homem com queimaduras graves, foi enviado para o hospital da Prelada no Porto.

Um dos factores de destaque deste simulacro prende-se com o facto de ter contado com a presença de uma psicóloga do INEM. O médico Luís Eiras explicou que o Instituto tem "a capacidade de disponibilizar apoio psicológico que neste caso se justificava pois era um acidente de grandes proporções. Mesmo as vítimas que não necessitavam de tratamento a qualquer traumatismo físico tiveram uma consulta para avaliar o seu estado psicológico".

Exercício com resultado positivo
Foram muitas as entidades que participaram no simulacro organizado pela Metro do Porto. No local estiveram 16 agentes da PSP, 12 da GNR, 55 homens dos Bombeiros Voluntários da Póvoa de Varzim e Vila do Conde, 3 da Cruz Vermelha de Vilar, para além de vários técnicos do INEM e elementos da Protecção Civil Distrital. Os elementos das corporações locais foram separados em cinco divisões. Uma de desencarceramento e estabilização do veículo acidentado, uma que serviu de elo de ligação com o Instituto Nacional de Emergência Médica, outra que efectuou trabalho de busca, salvamento e resgate – que incluía uma equipa de meio aquático – e mais duas de concentração e reserva que coordenavam a entrada e saída de meios para que não houvesse entupimento da via de acesso ao local e asseguravam prevenção e apoio para outro tipo de situações ocorridas durante o salvamento.

Joaquim Moreira, comandante dos Bombeiros Voluntários de Vila do Conde, disse ao Póvoa Semanário que o exercício serviu para provar que as entidades locais têm capacidade de resposta a uma situação de acidente num local de difícil acesso. O coordenador da equipa de socorro classifica como "importante" o facto de "já ter sido criado um plano específico para uma intervenção na zona do rio" mas salienta que "em qualquer situação que ocorra fora desta área, não temos necessidade de tantos meios". A oportunidade foi aproveitada para "fazer algumas correcções, melhorar o plano que tínhamos estabelecido" revelou Joaquim Moreira. Quanto aos acessos à linha em todo o seu percurso, o comandante garante que "os nossos elementos já frequentaram formação para intervenção em situações no percurso e conhecem os acessos, mas para além dos estabelecidos pela Metro, temos conhecimento de vários acessos secundários".

Já António Pinto, responsável de segurança da Transdev, que faz parte da sociedade Metro do Porto, afirmou que o simulacro foi "um sucesso". O exercício veio "na sequência da política da empresa, de fazer, sempre que vai inaugurar um novo troço, uma simulação de acidente em que envolve as entidades de protecção civil para que haja uma interligação, de forma a que todas as forças estejam bem apetrechadas para responder a qualquer situação" explicou António Pinto. A escolha de uma das zonas da linha, no município de Vila do Conde, em que o aceso é mais difícil é facilmente explicável, revelou o responsável de segurança da Transdev, pois a empresa "escolhe situações mais desfavoráveis para testar os meios", dado que "se soubermos responder a essas, conseguimos controlar facilmente as restantes".

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