quinta-feira, março 30, 2006

Faltam peças na conclusão do ‘puzzle’ do Metro

Póvoa Semanário


Miguel Pinto


No programa ‘Marés Vivas’ da Rádio Mar (89FM), David Santos e Paulo Costa saudaram a chegada do metropolitano de superfície à cidade da Póvoa de Varzim mas deixaram alertas quanto a lacunas evidentes nesse projecto. Em paralelo analisaram o contexto político local no executivo poveiro e as mudanças nos principais partidos do concelho

1- O metro de superfície já chegou à Póvoa, mas ainda é, a vários níveis, uma obra incompleta. Como é que perspectivam o epílogo desse projecto? Será possível a sua extensão até ao centro intermodal a localizar na zona de Barreiros?

2- Luís Diamantino (PSD) e Renato Matos (PS) assumiram a liderança das Comissões Políticas Concelhias dos dois principais partidos na Póvoa. O que é que podem representar estas alterações no figurino político poveiro?

3- Como é que caracterizam o relacionamento entre PS e PSD no executivo municipal?

David Santos
1- "Temos que estar satisfeitos pela inauguração do troço que faltava e que mais directamente nos dizia respeito. Para os utilizadores frequentes a conclusão da linha era fundamental, mesmo que nesta fase ainda se notem vários problemas. Não podemos esquecer que, durante quase quatro anos, essas pessoas enfrentaram grandes dificuldades nas deslocações para o Porto, o que agora deixará de se verificar. Ainda assim não deixa de ser estranho que as questões relacionadas com as novas carruagens 'Traim-Train' ainda não estejam completamente resolvidas, tal como não deixa de ser estranho que algumas obras de beneficiação urbana não tivessem também já resolvidas.

2- Em relação ao centro intermodal de Barreiros, penso que nada ainda está decidido. Foi o próprio ministro quem o referiu, para mal dos poveiros em geral, o que indicia que esse projecto poderá ficar nas calendas. Por isso, penso que a Câmara Municipal terá que adoptar uma posição de força junto do governo, fazendo ver que esse centro intermodal será fundamental para a Póvoa de Varzim como cidade e como concelho.

" Penso que ambas as personalidades foram duas boas escolhas: Luís Diamantino é alguém que, pelo facto de estar no poder autárquico há vários anos, tem grande visibilidade pública o que lhe facilita um maior reconhecimento por parte da população permitindo-lhe capitalizar, no bom sentido, alguns dividendos políticos. Ainda assim, continuo a achar que o PSD na Póvoa é um partido vazio e que vive exclusivamente à sombra da Câmara Municipal e em especial à sombra de Macedo Vieira.
Renato Matos é um jovem com ambição e que já demonstra uma assinalável experiência política. Teve um percurso sempre ligado aos órgãos locais, distritais e nacionais da Juventude Socialista, assumindo já há três mandatos o lugar de deputado municipal com intervenções assíduas e sempre bem estudadas e fundamentadas. É uma pessoa capaz, competente e que busca sempre soluções consensuais no interior do PS. Penso que está a tentar transmitir uma mensagem de disciplina no interior do partido e não uma mensagem de ruptura com o passado. "

3- "É natural que, de parte a parte, haja uma demarcação de terreno, até porque os vereadores do PS recusam, e bem, assumir um papel de meros observadores que já por algumas vezes lhes foi atribuído por Macedo Vieira. O PSD ganhou as eleições, é certo, mas o PS elegeu três vereadores que representam uma parcela significativa da população poveira. Isso tem que ser respeitado pelo presidente da Câmara que, dessa maneira, evitava um clima sistemático de crispação que, na minha opinião, não está a ser bem compreendido pela população e que, no futuro, poderá ser penalizador quer para Macedo Vieira, quer para Silva Garcia. A verdade é que os vereadores do PS têm feito os trabalhos de casa e apresentam-se bem preparados nas reuniões do executivo, onde têm apresentado ideias e propostas alternativas, demonstrando que quando o PS se apresentou às eleições fê-lo de uma forma sustentada e com um projecto alternativo."

Paulo Costa
1- "Penso que se trata de uma importante mais-valia para a cidade e para todo o concelho. Esta ainda é uma fase que tem várias arestas para limar e que, por isso, está a suscitar algumas queixas ao nível dos tempos de viagem, dos tarifários e das obras de requalificação paisagística nas imediações da linha. No futuro, penso que as novas carruagens vão diminuir claramente essas queixas e acredito também que a empresa do metro irá ter em conta os preços praticados, em especial para os estudantes e reformados. Quanto às obras de reinserção urbana, é algo que está a verificar-se e que levará o seu tempo. No essencial, penso que o pior já terá passado.
Quanto ao centro intermodal de Barreiros, não há dúvidas em relação à sua importância. É uma estrutura fundamental para ligar todas as freguesias do concelho e até para captar as populações de Esposende e de Viana do Castelo. Por tudo isso acredito que a Câmara Municipal, tal como o tem vindo a fazer, vai continuar a lutar por esse projecto mesmo que não seja fácil conseguir convencer o governo nesse sentido. Repare que agora não faltam exigências de quase todos os municípios envolvidos no projecto do metro."

2 - "Tratam-se de duas figuras bem conhecidas, mas com modos de actuação diferentes. No PSD, Luís Diamantino, que conhece muito bem os meandros da política local, deverá adoptar uma política de continuidade assente numa equipa renovada que se pretende implantar ainda mais nas freguesias do concelho. Ao contrário do que diz o David Santos, não penso que o PSD se esgote na actuação da Câmara Municipal, apesar de reconhecer que é a Câmara Municipal que tem dado maior visibilidade ao PSD. O trabalho que tem vindo a ser realizado na autarquia é o resultado da actuação das pessoas eleitas pelo PSD no projecto que o partido apresentou à população e que voltou a ser sufragado nas últimas autárquicas.

Por outro lado, Renato Matos é uma pessoa ainda jovem mas que revela já uma experiência política assinalável. Fez-se rodear de pessoas de qualidade e, com o sangue na guelra que também o caracteriza, pretende fazer crescer o PS, em especial nas freguesias que é onde se costumam ganhar as eleições autárquicas. Pelo seu discurso, acredito que Renato Matos quer deixar bem vincada a sua posição no interior do partido, e rentabilizar os resultados obtidos nas últimas autárquicas, nas quais o PS conquistou duas Juntas de Freguesia. Em suma, antevê-se um período interessante ao nível do combate político local."

3- "É um facto que a nova composição do executivo reforçou a presença do PS. Por outro lado, Silva Garcia é um elemento com outro peso, com outra visibilidade pública e que tem chocado sistematicamente com Macedo Vieira. Por isso, não me admira a turbulência que tem vindo a ser sistematicamente noticiada na comunicação social após as reuniões do executivo. Importante é que haja elevação e não crispação política apesar dessas sucessivas marcações de posição, quer de um lado, quer do outro, serem compreensíveis nestes primeiros meses de mandato.
Durante os oito anos em que estive na Câmara Municipal como vereador do PSD eu testemunho que o meu partido aprovou várias propostas da oposição. Por isso, o que eu acho importante é que se trabalhe: o PSD no trilho do seu programa eleitoral e o PS na apresentação das propostas que entenda serem convenientes para os munícipes. Depois logo se vê o resultado."

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